quinta-feira, 29 de abril de 2010

pinga, a caninha, ou cachaça?

A caninha, ou cachaça, ou pinga? Um pouco de história.

Foram os gregos os primeiros a registrar o processo de fabricação da ácqua ardens, a água que pega fogo - água ardente, ou cachaça, pinga, caninha, ou um dos vários nomes que foi adquirindo atráves dos tempos e das diferentes culturas.

Nas mãos dos alquimistas esse destilado de fruta se transforma em água da viva, com propriedades medicinais e místicos, recomendada como até elixir da longevidade.

Do oriente médio para a Europa, a tecnologia de produção do destilado espalha-se pelo mundo. Na Itália, o destilado de uva fica conhecido como grappa. Em
terras Germânicas, se destila a partir da cereja, o kirsch. Na Escócia fica popular o whisky, destilado da cevada sacarificada. Na Rússia a vodka, de centeio. Na China e Japão, o sakê, de arroz.Portugal destila a partir do bagaço de uva, a bagaceira.

Com os portugueses chega ao Brasil a cana de açúcar vinda do sul da Ásia. No Nordeste, principalmente e depois por todo o pais, a cultura se desenvolve. Os primeiros colonizadores que vieram para o Brasil, apreciavam a Bagaceira Portuguesa e o Vinho d'Oporto. Na Capitania de São Vicente, no século XVI, descobrem o vinho de cana de açúcar - Garapa Azeda, feito a partir de sobras dos tachos de rapadura, que ficavam ao relento. Em comparação com o Cauim - produzido pelos índios a partir da fermentação do milho, parece uma bebida limpa. Os senhores de engenho passam a servir o tal caldo,
denominado Cagaça, e a partir dai, a Cachaça.

Nessa época a cachaça vira moeda de troca para compra de escravos. Multiplicam-se os engenhos, com atenção dividida entre produção de açúcar e cachaça e a partir de então, descaso à bebida portuguesa.O comércio da bagaceira cai no Brasil, incomodando os portugueses que resolvem proibir o uso da cachaça. Depois, resolvem taxá-la. Em 1756 os impostos atribuídos ao consumo da aguardente de cana de açúcar brasileira foi um dos itens que mais contribuiram para a reconstrução de Lisboa, abatida pelo terremoto em 1755.

A cachaça resiste como símbolo dos ideais da liberdade, e de resistência à dominação portuguesa. Bebida nos bares, botequins se popularizou com o samba, já no início do século XX. É resgatada como símbolo de brasilidade na Semana de Arte Moderna em 1922. Hoje é reconhecida em todo o mundo, como bebida requintada, apreciada como genuinamente brasileira.

Há vários
colecionadores especializados e museus da cachaça espalhados por todo o Brasil. Todos guardam muitas histórias e curiosidades sobre essa bebida tão brasileira. Vale a pena conhecer e apreciar, com moderação, sempre.




sábado, 24 de abril de 2010

Biscoito de Cachaça

Depois do Biscoito do Torresmo e como uma coisa puxa a outra ...


Mineiro que é mineiro, aquele do interior ou o da capital, que adora a mesa de um bar (lembrar sempre que BH é a capital dos bares e foi aqui que nasceu há 10 anos o já famoso e nacional
Festival Comida de Buteco), come torresmo como tira-gosto de uma branquinha, ou cachaça, ou pinga, ou caninha, ou água que passarinho não bebe. E são ínumeras as nomeclaturas desse patrimônio nacional, tão a cara da mineirice.

Mas como aqui é lugar de quitanda, e porque uma boa quitandeira mineira, aquela, das antigas, aproveitava tudo e transformava na mais boa, querida e apreciada quitanda, eu, sem mais delongas, ou prosas, vou deixar a receita de Biscoito de Cachaça, que também está no
Quitandas de Minas, receitas de família e histórias, como não podia deixar de ser.


Biscoitos de cachaça


2 xícaras de gordura derretida
2 xícaras de cachaça (ou pinga da boa)
1 colher (sopa) cheia de fermento em pó
1 xícara de açúcar
farinha de trigo até o ponto de enrolar

E fazer é simplícimo: Numa gamela, ou bacia, misturar todos os ingredientes. Fazer rosquinhas, colocar num tabuleiro e levar para assar. Depois de assadas, banhar num chá de canela ou cravo bem doce e frio em seguida e passar no açúcar refinado. Ai é só fazer um café forte, bem gostoso, colocar a toalha xedrez e começar a conversa fiada, como manda o figurino.


PS: reparou na foto, a minha cara de feliz na cachaçaria? pois é... é assim mesmo. :-) A foto é do Ernesto Lopez e foi feita em Paraty, aliás também um lugar onde se encontra boas e apreciadas cachaças.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Biscoito de Torresmo


Nos anos 1970, em plena ditadura, tempos de importação dos costumes norte-americanos (que estão fazendo o mundo ficar mais pesado) e da época de assimilação do fast-food; do advento de carrocinhas de cachorro-quente pelas esquinas de BH, o então governador de Minas, Aureliano Chaves, preocupado com a perda da identidade culinária mineira encomendou uma pesquisa de resgate do que temos de mais genuíno:os fazeres das fazendas do interior, a sabedoria e a arte do cozinhar no dia a dia.

Essa pesquisa ficou a cargo e responsabilidade de D. Maria Stella Libanio Christo, que registrou tudo em vários livros sobre o tema. O mais famoso, Fogão de Lenha
, 300 anos de cozinha mineira foi publicado pela Vozes Editora.

D. Stella ainda guarda muitos cadernos manuscritos recolhidos de suas andanças por toda Minas Gerais datados dos século XIX ou até de antes.

E é desse livro que eu compartilho essa receita de Biscoito de Torresmo.
Torresmo é feito com toucinho de porco. E se faz assim: corte o toucinho em cubos ou tiras com dois dedos de grossura. Tempere com sal e misture bem. Deixe repousar um pouco para o sal agir. Coloque os toucinhos numa panela e leve ao fogo para fritar. Não precisa colocar óleo. Mexa para que não agarre na panela e deixe até começar a amarelar. Tire do fogo e deixe esfriar. Para consumir, é melhor fazê-lo a partir do dia seguinte, quando então você deve fritá-los outra vez. Se quiser, pode congelar, ou guardá-los na banha.

Na casa da minha avó tinha sempre uma panela de pedra sabão cheia de torresmo e carnes de porco, já fritos uma vez, esperando para ser consumidos.

Biscoito de Torresmo


1/2 kg de polvilho
1 colher (café) de bicarbonato
1 colher (café) de cremor tártaro
2 ovos
açúcar a gosto
canela
1 pires cheio de torresmos


Comece passando os torresmos numa máquina de moer. Depois, numa vasilha, misture-os ao polvilho, mexendo bem. Junte os ovos e amasse bem. Acrescente os demais ingredientes. Leve para assar em forno já aquecido. Bom apetite.


Volto com mais receitas e história desse trabalho de D. Stella.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

A cozinha da Vovó Naná


Achei essa foto aqui nos meus guardados e bateu uma saudade danada dessa cozinha, desse tempo, disso tudo.
A foto é meio velhinha, né... e tô eu bem no centro, mais moleca impossível, do jeito que sempre gostei de andar, com pouca roupa, na cozinha mágica da casa da minha avó Naná. Devia ter ai uns 6 ou 7 anos. De costas, à esquerda, está Tia Cecy lavando alguma louça, panela, verdura ou fruta.

Ao fundo, olhando para a câmara e rindo, a Mene. Devia estar fazendo alguma coisa no fogão à lenha. O saleiro encostado lá no fundo, percebeu?

Repare o pretume da cozinha. Era coisa do fogão, que a vovó mandou refazer umas muitas não sei quantas vezes e nunca tinha jeito, ele sempre deixava esse pretume, mas não me lembro de enfumaçar demais, engraçado! Se fazia pretume devia enfumaçar... o que sei é que as coisas que saiam dali eram sempre divinamente saborosas, normalmente feitas pela Dinha Lete, a grande dona desse fogão.

Ao lado do fogão à lenha, e debaixo da janela, ficava o fogão a gás. Que era usado para ferver leite, esquentar alguma sopa, fazer um mexido no fim da noite (na quinta refeição do dia, como era de costume).

Pelo clarão que entra pela janela (no alto, à direita), acho que essa foto foi feita de manhã, pelo Tio Tarcizo, o fotógrafo da família. Na certa ele revelou essa foto nos quartinhos que tinham na, como chamávamos, horta de couve. A horta de couve não existe mais, mas os quartinhos (um era a oficina e laboratório fotográfico) ainda estão lá.
Repara na mesa, à frente: uma garrafa térmica, um bule, uma lata que devia estar com biscoitos, um pratinho de queijo, o açúcareiro... Enquanto todo mundo não tomava café a Dinha não recolhia as coisas. No balcão, logo atrás de onde estou, dá pra gente perceber as couves apanhadas ainda sem picar e um monte de vasilhas. Recolhida a mesa, as garrafas de café ficavam ali. Paquito, meu outro tio artista, sempre gostava (e ainda gosta) de bicar um cafezinho de vez em quando, e nem se importava muito se o café estava novinho, ou se era de mais cedo.

Que saudades que dá!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Mocha Brownies


Abril por ai, chegando, nem tão manso como gostaríamos que fosse. Mas por aqui, o céu de Minas está lindo, com um azul intenso. As tardes com aquele colorido mágico: nuvens desenham figuras, imaginação passeia alta, temperatura baixando, aquele ventinho...

Do alto nas montanhas de Minas, essa paisagem traz montes de nostalgias. Ai dá aquela vontade de tomar um café, comer um biscoitinho, um chocolate.. hum mm

Então que tal fazer um mocha brownies? Apesar de ter origem norteamericana, dizem que é um "erro" de uma receita de bolo, veja só. Cai como luva com para um clima desse, né não?


É simples e não demora muito, se você já tiver os ingredientes em casa:


125g de chocolate meio amargo picado,
1 colher (sopa) de manteiga sem sal
1 xícara de açúcar mascavo

2 ovos
1 colher (chá) de café solúvel
1 colher (sopa) de água quente
100g de farinha de trigo
½ colher (chá) de fermento
1 pitada de sal
½ xícara de castanha do Pará ou qualquer castanha que tiver à mão
Manteiga para untar a forma


Pré- aqueça o forno, enquanto prepara a delícia. Unte e forre com papel manteiga um tabuleiro de aproximadamente. Numa panela, derreta o chocolate e a manteiga sempre em fogo baixo e deixe esfriar - reserve. Numa tigela bata o açúcar e os ovos até engrossar. Numa vasilha à parte, coloque uma colher de água quente e dissolva o café solúvel, mexendo bem. Misture o café solúvel ao chocolate derretido. Depois ajunte a farinha, o fermento e o sal. Por último, adicione as castanhas.
Despeje no tabuleiro e leve para assar por aproximandamente meia hora.


... que delícia

sábado, 3 de abril de 2010

Torta de maçã e laranja

Com a história de colecionar receitas, a gente vai juntando papéis, cadernos antigos e como todo caderno de receitas tem sempre umas folhas soltas, acabei achando essa receita no meio de um caderno velho que tinha em casa.
Pelo "tipão da receita" essa não tem erro. É fácil de fazer, saborosa e boa pra acompanhar um suco, um refrigerante, enquanto estamos no outono. E porque estamos em plena Semana Santa, tempo em que até as galinhas fazem jejum e os ovos ficam escassos, segue essa receita deliciosa que só leva um ovo.

Torta de maçãs com laranjas:


para a massa:
1/2 xícara de açúcar
1 ovo inteiro
1 xícara de leite
1/2 xícara de farinha de trigo
1/2 colher de fermento em pó

para a cobertura:
2 ou 3 maçãs médias
1/2 xícara de suco de laranja
1/2 xícara de açúcar
1/2 xícara de maisena

Para fazer a massa: bater a clara do ovo até ficar em neve e reservar. Juntar os demais ingredientes, misturar tudo e bater bem, até obter uma massa leve. Acrescente a clara em neve delicadamente. Abrir essa massa e levar para assar num tabuleiro untado e enfarinhado.

Para fazer a cobertura: lave as maçãs e fatie. Cubra a massa com as maças, fazendo um desenho delicado. Numa panela ao fogo, faça uma calda com o açúcar e o suco de laranja. Depois acrescente a maisena, fazendo um creme. Cubra as maças com esse creme, deixe esfriar e leve à geladeira. Servir frio.