segunda-feira, 25 de abril de 2011

Curiosidades culinárias acerca de Monteiro Lobato

Juca, como era chamado por sua neta Joyce, gostava de pintar e fotografar e adorava quitandas e quitutes. Gostava de “bolinhos de chuva, biscoito de polvilho, sequilhos, curau, pamonha, canjica, pipoca , paçoca, goiabada cascão, banana seca, bala de coco, rapadura, pé de moleque, doces de leite talhado, de abóbora, de casca de laranja, além de figo cristalizado, banana da terra frita e bolo de fubá" feitos e servidos por sua querida Purezinha.

Tinha manias estranhas: com o doce de leite vendido em barra em Taubaté, Juca picava e colocava no bolso e ia comendo enquanto trabalhava. No café da manhã, misturava farinha de milho com café preto numa xícara grande, e se não tinha farinha de milho, usava a de mandioca.


O livro À mesa com Monteiro Lobato, de Márcia Camargos e Vladimir Sacchetta
foi concebido e organizado a partir de um caderno vermelho de D. Purezinha, esposa do grande escritor. Nesse original, foram encontradas receitas transcritas e reescritas por ele, que sempre acrescentava um toque de humor, ou um neologismo. Retirei dali essa receita:



Bolo de farinha de milho

2 xícaras de farinha de milho
1/2 litro de leite
2 xícaras de açúcar
2 ovos batidos separados
1 colher (sopa) de fermento em pó
1 pitada de sal
Um pouco de queijo ralado
1 colher (sopa) de banha de porco
1 colher (sopa) de manteiga

Colocar a farinha numa tigela. Colocar o leite e esperar uns 25 minutos. Acrescentar os demais ingredientes, misturando bem. Despejar numa forma untada e enfarinhada e levar para assar em forno pré- aquecido. Querendo pode-se juntar meio (ou 200g ) de coco ralado à massa.

CAMARGOS, Márcia. Memórias da neta de Monteiro Lobato. SP: Moderna, 2007.
___ e SACCHETTA, Vladimir. À mesa com Monteiro Lobato. SP. SENAC, 2008.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Livro comestível



Há 129 anos, no dia 18 de abril de 1882 nascia, em Taubaté -cidade do Vale do Paraíba- interior paulista, José Bento Monteiro Lobato, o maior escritor da literatura infantojuvenil brasileira, o criador do Sítio do Picapau Amarelo, que nos alimentou e alimenta com suas tantas histórias fantásticas e as recriadas da literatura universal. Monteiro Lobato foi defensor e valorizador da cultura nacional e ferrenho articular de campanhas nacionalistas.

Com temperamento contestador, Monteiro Lobato aproveitava tudo ao seu redor, para valorizar ou criticar. Como valorizador da cultura brasileira, Monteiro Lobato menosprezava os menus estrangeirados dos restaurantes urbanos e destacava a culinária caipira, do interior. Nas histórias do Sítio do Pica-pau Amarelo, não faltam exemplos e receitas de Tia Nastácia que "manejava o violino do gostoso" ou servia "pratos-gostusuras" ao visitantes ilustres.

Em Reforma da Natureza, Monteiro Lobato, através da boneca Emília, sugere livros comestíveis, que alimentam o corpo e a alma:

" em vez de impressos em papel de madeira, que é só comestível para o caruncho, eu farei os livros impressos em um papel fabricado de trigo e muito bem temperado. A tinta será estudada pelos químicos - uma tinta que não faz mal para o estômago. O leitor vai lendo e comendo as folhas, lê uma rasga-a e come. Quando chega ao fim da leitura, está almoçado ou jantado."

(MONTEIRO LOBATO. Reforma da natureza. Ed. Brasiliense, 1964.p. 236)


Volto com receitas recolhidas por Monteiro Lobato dos cadernos de Purezinha, sua mulher!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

vendedoras de pão de ló de Debret

Jean Baptiste Debret, pintor, decorador, desenhista, gravador, cenógrafo, formou-se na Academia de Belas Artes de Paris, e após a queda de Napoleão, decide vir ao Brasil, integrado à Missão Artística Francesa, organizada por dom João VI. em 1816.

Como pintor oficial do Império, Debret desenhou a bandeira do Brasil com a cor verde e o losango amarelo que ainda permaneceram na bandeira. Além de pintar retratos da família real, como a tela em tamanho natural de D. João, o processo de independência do Brasil, a coroação e os primeiros anos do governo de Pedro I. Gostava de retratar o cotidiano brasileiro, atento às questões sociais e à maneira de vida do Primeiro Império.

Regressando à França em 1831, publicou em Paris, de 1834 a 1839, o livro Voyage Pitoresque et Historique au Brésil (Viagem pitoresca e histórica ao Brasil), uma série de gravuras sobre aspectos, paisagens e costumes do Brasil, de valor fundamental para nossa história do começo do séc. XIX, que mostra um colorido harmonioso, um painel do Rio de Janeiro, sendo um dos poucos registros dos usos e costumes do Brasil nos primeiros anos do século 18.

A imagem acima, chamada Vendedoras de Pão de Ló, Debret regista aspectos do cotidiano das escravas, ou quitandeiras, que comercializavam pão de ló, sonhos, manuês e produtos in natura, normalmente frutas da época e alimentos pronto, como angu com miúdos, carne de vaca e café aos trabalhadores que almoçavam nas ruas do Rio de Janeiro, nos tempos do Segundo Império e primeiros anos da República. Dai a tradição mineira de chamar QUITANDA as gostosuras feitas em casa e servidas á visitas, hóspedes ou mesmo vendidas .

domingo, 3 de abril de 2011

Pão de ló de laranja


Minha avó Naná, que foi professora e diretora de grupo escolar, de vez em quando resolvia ir pra cozinha, inventar alguma coisa diferente, especial. Normalmente isso acontecia quando estava para chegar algum parente, ou quando havia alguma celebração na igreja e muitos padres vinhas para a cidade.

No interior de Minas a religiosidade sempre foi muito forte e vovó era do Apostolado do Sagrado Coração de Jesus e usava uma medalha e fita vermelha nas rezas e festas religiosas.

Mas isso é já outra história. Lembro que ela
gostava de fazer um saboroso pão de ló de laranja.

A origem do pão de ló é desconhecida, mas chegou aqui, na certa, com os portugueses. Lá em Portugal existem variedades diferentes de pão de ló e que acabaram se tornando símbolos de várias regiões: em Alfeizerão, freguesia de Alcobaça o pão de ló é considerado ex libris.


Em Ovar, cidade próxima a Aveiro, a tradição do pão de ló é refenrenciada no livro Os passos de autoria do Padre Manuel de Oliveira Lírio "
Em 1781, são obsequiados com Pães de Ló de Ovar, os Padres que levaram o andor na procissão dos Passos. Arquive-se como documento, a antiguidade desta guloseima." Outras regiões também são famosas por seus pães de ló. Por lá existe ainda uma receita de pão de ló à brasileira, diferente das tradicionais, por levar menos ovos.

Dizem que foram portugueses que levaram ao Japão ainda no século 16 a receita do pão de ló, que é conhecida por lá como Pão de Castela e essa deu origem a um dos doces mais típicos do Japão, o Kasutera. A receita japonesa é feita de mel e o nome faz referência à castelo, por causa da clara que é batida até ficar "alta como um castelo"

No Quitandas de Minas, receitas de família e histórias tem duas receitas à página 104, uma mais simples e essa que deixo aqui para você.

Pão de ló de laranja


6 ovos
2 xícaras de caldo de laranja
2 xícaras de farinha de trigo
2 xícaras de amido de milho
2 xícaras de açúcar refinado
1 colher (sopa) de fermento em pó
1 colher (chá) de essência de baunilha


Modo de fazer:

Bater as claras e colocar o açúcar aos poucos, batendo sempre, até o ponto de suspiro. Colocar as gemas, uma a uma e continuar batendo. À parte, juntar a farinha de trigo, o amido de milho e o fermento. Acrescentar os ingredientes secos aos poucos na massa, junto com o suco de laranja e mexer delicadamente. Por último, colocar a essência de baunilha. Untar o tabuleiro com manteiga e polvilhar. Levar ao forno por 20 minutos. Caso queira, colocar um glacê de calda de laranja, no bolo ainda quente.